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EN SAN PABLO... MADRE..INMIGRANTE EMPRENDEDORA ,MAMÁ y ABUELA.

Imigrante, empreendedora, mãe e avó: a história de uma boliviana
Por: Thiago Baltazar - São Paulo, 8 de março de 2012 - Atualizado em 08/03/2012 às 18h03

O pai era comunista; o avô, latifundiário e o país era a Bolívia. O passado da boliviana radicada no Brasil Celida Cristina Camacho uma vez tão sólido se dissolveu.  A boliviana, ainda pequena, teve o pai assassinado numa perseguição política e a mãe falecera pouco antes em um acidente. Quando a reforma agrária chegou, a fortuna de seu avô que antes era transportada em sacos, se foi. Órfã e vivendo na casa de parentes, a menina não teve dúvidas. Casou-se, tomou o destino pelas mãos e partiu.  O Brasil seria seu futuro e o lugar onde ela teria novamente um lar.


Na São Paulo de 1960, Dona Celida morou na região do Bom Retiro em um cortiço. Inocente, não sabia o que era uma meretriz nem por que assim chamavam sua vizinha. Fazia amizade muito facilmente e assim conseguiu seu primeiro emprego na vida. Com apenas cinco dias no Brasil ela começou a trabalhar como arrematadeira numa empresa de alta costura, a General Modas que contava com estilistas franceses na época.

Dona Celida relembra os dias em que trabalhou na General Modas. No dia de sua entrevista, foi solicitada a fazer um serviço de costura que nunca havia feito antes. Um austríaco, porém, fez metade de seu trabalho e lhe disse para olhar e aprender. Assim a boliviana carregou consigo este conselho e anos mais tarde abriu uma próspera oficina de bolsas, sempre observando e aprendendo.

Como uma das primeiras mulheres fabricantes de bolsas de São Paulo, ela fez questão de pagar os funcionários conforme a legislação brasileira determinava. Com orgulho afirma que nunca deveu nada a ninguém. Como uma mulher empreendedora, sofreu preconceito, pois  homens nunca gostaram de ter uma mulher como chefe, não naquela época, diz ela. Alguns a chamavam de mulher macho porque sempre foi ‘boca dura’. “Vou ter boca mole?”, brincou.

Quando veio ao Brasil, a intenção era estudar. E estudou a vida. No entanto, Dona Celida fez questão de que seus sete filhos se matriculassem em escola particular. Alguns com bolsa estudantil, outros com desconto na mensalidade, mas todos cursaram boas escolas paulistanas.

Conciliar o trabalho com a família é um dilema comum para muitas mulheres na atualidade e Dona Celida passou por isso. Enquanto trabalhava, ela precisou da ajuda de suas filhas mais velhas para tomar conta da casa e dos irmãos. Eles tinham consciência do trabalho árduo de sua mãe.

Mas, hoje a principal tarefa de Dona Celida é como avó, mimando os netos. Nos aniversários dos pequenos não pode faltar a sopa de mani, ou amendoim em português. “Eles adoram”, diz ela.

Dona Celida vai à academia e também cuida da saúde mental lendo toda noite um capítulo de um livro. Quando pensa sobre as dificuldades ela se lembra do que a avó dizia. “O sofrimento é relativo, depende de sua escolha”.

Os dois óculos que Dona Celida carrega, ajudam a enxergar melhor após o derrame que sofreu há seis anos e que a deixou cega de um olho. Ainda que difíceis nenhuma dessas circunstâncias impediram-na de conservar a vaidade e feminilidade de mulher. Unhas dos pés e das mãos feitas, batom nos lábios, cabelos penteados e bom humor formam a imagem do exemplo de mulher pioneira que saiu da Bolívia, lutou no Brasil, construiu uma família e venceu.
Fonte: 
Bolívia Cultural

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