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EN SAN PABLO... MADRES BOLIVIANAS RECIBEN AMPARO y ORIENTACION.


Longe de casa, mães bolivianas recebem amparo em hospital de São Paulo
Por: Da Redação - São Paulo, 03 de março de 2012 - Atualizado em 03/04/2012

Algumas roupas, um pequeno enxoval, um abacate e quinoa (grão típico da região andina). Isso era tudo o que a boliviana Julia Codori, de 28 anos, levava na bolsa quando chegou ao Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros, na Zona Leste de São Paulo, para dar a luz à primeira filha, Jasmim. 

 
Julia, nascida em La Paz, chegou ao Brasil há dois anos para trabalhar em uma oficina de costura no bairro de Vila Maria, Zona Norte, com a irmã. Um ano depois engravidou, e agora, com a filha nos braços e sem o pai da criança ao seu lado, contará com a proteção do Padre sol, Madre luna e Pachamama (divindades incas) para conciliar a vida materna com o trabalho. “Padre sol, willka tata, ilumina mi camiño...”, cantarola para a filha para evocar proteção enquanto amamenta com dificuldade, devido à falta de leite.

A boliviana explica que em seu país, durante o período pós-parto, é comum que as mães reforcem a alimentação com “comidas restritivas”, como o abacate. Já o quinoa, que é constantemente consumido na Bolívia independente da ocasião, “ajuda com proteínas e vitaminas que fazem bem ao bebê”, diz. 

Mãe de primeira viagem, Julia é uma das poucas bolivianas que são atendidas no Leonor de Barros que concorda, sem objeções, em fazer uma operação cesariana em vez do parto normal. “A principal semelhança entre as bolivianas que chegam a nós é que a maioria tem preferência pelo parto normal. Já houve casos até mesmo de parto de cócoras, mas não são tão comuns entre elas quanto o parto normal”, conta o médico obstetra, Luciano Patah. 

A assistente social do hospital, Regina Dias de Barros, que é responsável por instruir as pacientes após o parto, explica que a preferência vai além de uma questão cultural. “Muitas delas trabalham em oficinas de costura sob condições totalmente inadequadas: salários baixos, cargas horárias longas, e muitas vezes até em troca de um mísero prato de comida. Por isso, para elas, quanto antes saírem do hospital melhor, assim não tem os poucos benefícios descontados pelos patrões. Como a recuperação após a cesárea é mais lenta, elas insistem no parto normal”, diz. 

As condições retratadas por Regina ilustram a realidade de muitos imigrantes, principalmente bolivianos, que vêm ao Brasil em busca de emprego. A situação de Julia, segundo ela, não entra neste quadro. Empregada por uma brasileira, que a concedeu dias de licença maternidade, Julia trabalha 10 horas por dia, e mesmo assim diz que sua vida aqui é melhor do que na Bolívia. 


Documentação 

Julia, diferente de muitas que passam pelo hospital, já está com a situação regularizada no Brasil. Com a lei da anistia assinada em julho do ano passado, que autorizou a residência provisória de cidadãos estrangeiros que haviam entrado no Brasil até o dia 1º de fevereiro de 2009, ela passou a ter direito à liberdade de circulação, ao trabalho regularizado, acesso à saúde e educação públicas. 

No entanto, nem todas estão diante das mesmas condições, e muitas acabam vendo nos filhos a possibilidade de mudar o próprio quadro. Isso porque, segundo a Constituição, a partir do momento em que se tem um filho no Brasil, a mãe também passa a ter direito à documentação regularizada. 

A falta de documentação é motivo para que muitas bolivianas não realizem os exames pré-natal com medo de se expor, o que além de comprometer a saúde do bebê, também pode prejudicar a gestante.

“Por volta do ano 2000, a diretoria do hospital começou a notar que o medo dessas mulheres de serem presas e deportadas era um problema bastante recorrente, e que as bolivianas que vinham ter filhos aqui precisavam de um acompanhamento mais próximo”, conta Regina. 

A partir disso, o Hospital Leonor de Barros firmou uma parceria com o consulado da Bolívia e a Pastoral do Imigrante para agilizar o processo de regularização dos imigrantes. Até então, o processo era longo, levando em média dois anos. 

Após receber uma declaração da unidade de saúde com os dados do parto, o consulado emitia uma carta autorizando a retirada do bebê do hospital. Só depois os pais podiam encaminhar os dados para a polícia federal para receber um salvo-conduto que impede eventuais prisões ou deportações. 

Depois da parceria, em poucos meses o documento está pronto. O bebê sai do hospital com o registro já feito e os pais com as informações sobre o parto em mãos. 

“Tudo ficou mais fácil, o contato com a polícia federal, a burocracia, tudo isso foi agilizado com as parcerias. Agora, não é mais necessário procurar o consulado, o hospital faz a tramitação”, explica Regina. 

Especialização 

A agilidade na regularização dos documentos é uma das várias ações que o Leonor de Barros implantou para atender melhor a população boliviana, que constantemente procura os serviços do hospital devido à proximidade com a área de confecções, na qual muitos imigrantes trabalham. 

Depois de notar que quase 30% dos partos realizados eram de mães bolivianas, o hospital passou se dedicar para transpor as barreiras entre as culturas, entre elas, o idioma. 

“A maioria das pacientes imigrantes não fala português e, mesmo as que dominam um pouco da língua têm muita dificuldade de se comunicar devido ao medo de se expor”, contou Regina. 

Diante disso, os médicos, a equipe de enfermagem, psicólogos, assistentes sociais e voluntários foram submetidos a aulas de espanhol. Alguns passaram até mesmo a estudar o aymara, um dos três dialetos falados na Bolívia, para viabilizar a comunicação em casos de pacientes que sequer falam o espanhol. 

Esta especialização do atendimento chamou a atenção de Isabel Sandoval, que ao ir visitar um paciente se surpreendeu com o cuidado do hospital com os bolivianos. Isabel, que também é boliviana, mora no Brasil há 46 anos e há 10 trabalha voluntariamente com os conterrâneos na Pastoral do Imigrante. Em 2008, conheceu o Leonor de Barros, e agora faz parte das voluntárias do hospital. 

“Sou a única boliviana da equipe de avental rosa”, diz ela fazendo referência ao uniforme exclusivo das voluntárias. “Não sei se em razão disso as mães se sentem mais à vontade comigo, mas em geral eu consigo acessá-las bastante e ajudar conversando ou apenas instruindo. Sinto que elas se sentem amparadas”, completa. 

Isabel conta que muitas chegam bastante acuadas ou desconfiadas. Para ela, além da falta de informação, a cultura machista da Bolívia é um dos principais problemas. “São poucas as mulheres que chegam acompanhadas pelo pai da criança ou que pelo menos recebem uma visita durante a internação”, diz. 

É o caso de Julia, que dois dias após o parto havia recebido a visita apenas da irmã e de uma amiga. “Nós não estamos mais juntos, mesmo assim eu liguei para ele visitar nossa filha. Ele disse que não pode faltar ao trabalho, que é mais importante”, conta. 

A boliviana explica que este foi um dos motivos pelo qual procurou o Leonor de Barros. “Uma amiga já havia me falado que aqui eles são bons para nós bolivianos. Como eu sabia que teria que me virar sozinha preferi procurá-los para ter um amparo maior, mesmo sendo longe da minha casa”, completa Julia. 

A mobilização do hospital é tão significativa que não passa despercebida também pelas autoridades. Em 2007 a unidade recebeu uma placa do Consulado da Bolívia homenageando-o pelos serviços especializados prestados ao seu povo. 

“Eu me sinto honrada de poder contribuir com tudo isso. Passei dificuldades, principalmente na questão da falta de informação, agora quero ajudar quem eu puder, isso me motiva. O Leonor se adaptou aos bolivianos e nós ao sistema de atendimento deles, isso é uma vitória conjunta”, conclui Isabel. 
Fonte: 
Opera Mundi
Bolívia Cultural

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