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EN SAN PABLO...EN RIO MARCAN DEBATES SOBRE POLITICA, CULTURA, MIDIA y EDUCACION

Debates sobre política, cultura, mídia, gênero e educação marcam o VIII Fórum de Migrações no Rio de Janeiro
6 dezembro, 2016
Por *Lya Amanda Rossa e *Maria del Carmen Villarreal Villamar

A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na capital fluminense, recebeu migrantes, pesquisadores, ativistas, professores e estudantes, entre os dias 29 de novembro e 1º de dezembro, no VIII Fórum de Migrações “Coletivos, Redes, Fluxos Coletivos”, com realização paralela do IV Simpósio de Pesquisa sobre Migrações. O evento foi concebido e coordenado desde sua gênese pelo professor da Escola de Comunicação da UFRJ Mohammed ElHajji, responsável pelos projetos O Estrangeiro e Diaspotics (iniciativas realizadas como parte de pesquisas financiadas pelo CNPq) e por uma ampla equipe de colaboradores do PET-ECO, PÓS-ECO e de outras áreas acadêmicas.

Debates sobre política, cultura, mídia, gênero e educação marcam o VIII Fórum de Migrações no Rio de Janeiro

Desde a quinta edição do evento ocorre também o Simpósio de Pesquisa sobre Migrações, no qual pesquisadores de diversas instituições do país e do mundo, ligados a diferentes áreas de conhecimento, se debruçam ao tema das migrações por um viés que lhe é inerente: a interdisciplinaridade, essencial para a análise em profundidade de um tema tão humano,complexo e multifacetado.Por privilegiar pesquisas realizadas sob diferentes perspectivas, o evento vem se consolidando a nível nacional como um importante espaço de discussão e construção de saberes sobre as migrações internacionais no país e no mundo, e a cada ano inclui exposições de participantes vindos de diferentes instituições e lugares. Nesse ano, o Simpósio contou com a sua primeira mesa sobre gênero e migrações, e também teve a participação de estudantes de várias partes do mundo que vêm ao Brasil pelo programa de mestrado Mitra, vinculado ao Erasmus Mundus.

Programação cultural e expressões migrantes

A importância das experiências daquelas e daqueles que migram foi incorporada nessa edição com o destaque à iniciativas musicais e culturais, com a realização de um ato cultural pelo Bloco Bésame Mucho e o Coletivo La Clandestina. Compostos por latino-americanos residentes no Rio de Janeiro, ambas iniciativas, apresentadas no evento por Ezequiel Soto e Gabriel Pantoja, surgiram como uma tentativa de desmistificar as expressões culturais dos países vizinhos, bastante estereotipadas no Brasil, e de manter as suas raízes, artes, formas de expressão e luta política, compartilhando-as com a forma carioca de celebrar a vida através do samba. A música e a organização como meios de expressão cultural e política também foram tema de exposições de Andrea Santos e Jimena de Garay, do Coletivo Mallinalli, que mobiliza mulheres e a cultura mexicana do Dia de los Muertos para aproximar a luta brasileira por educação ao movimento mexicano “Caravana 43”. Em referência ao massacre ocorrido em 2014 em Iguala contra quarenta e três estudantes de uma escola rural em Ayotzinapa, no sul do México, a Caravana estabelece conexões entre as ocupações estudantis contemporâneas no Brasil e os quarenta e três estudantes desaparecidos políticos e vitimados pela violência estatal no México. A cultura como instrumento de expressão também foi pautada pelo grupo Cambamberos, grupo folclórico e musical colombiano e por Mango Mambo, grupo de música latino-americana composto por brasileiros, argentinos e mexicanos.

Ato cultural do Bloco Bésame Mucho e Coletivo La Clandestina, encerrando a programação  do primeiro dia do evento. Crédito: Divulgação
Ato cultural do Bloco Bésame Mucho e Coletivo La Clandestina, encerrando a programação
do primeiro dia do evento.
Ato cultural do Bloco Bésame Mucho e Coletivo La Clandestina, encerrando a programação  do primeiro dia do evento. Crédito: Divulgação

Também com enfoque sobre a expressão migrante, o painel do primeiro dia do evento contou com a participação de Jobana Moya, da Equipe de base Warmis-Convergência das Culturas de São Paulo. A importância da mobilização migrante através de iniciativas culturais – como o projeto Lakitas, que se apresentou junto a Frente de Mulheres Migrantes na 10ª Marcha dos Imigrantes, ocorrida no dia 27 de novembro em São Paulo –  e outras formas de comunicação, como a participação do grupo na tradução e produção de cartilhas sobre direitos das mulheres migrantes, oficinas sobre parto humanizado e violência obstétrica e a cosmovisão sobre o parto e maternidade na cultura andina foram alguns dos assuntos abordados. A discussão sobre a presença migrante nos espaços públicos foi acompanhada de reflexões sobre a ocupação dos espaços digitais como forma de propagar conhecimento e desconstruir preconceitos, como tratado pela professora Denise Cogo (ESPM-SP) sobre o ativismo de imigrantes haitianos no Brasil e por Mélanie Montinard (UFRJ), dos projetos Haiti Aqui e Viva Rio.

Debates e diálogo entre academia, governos e sociedade

Desde a primeira edição, o Fórum de Migrações tem a preocupação de reunir acadêmicos e demais pesquisadores que trabalham com a questão migratória, representantes das organizações de migrantes, expoentes da mídia comunitária, membros de associações e estudantes estrangeiros.  Justamente por reunir pessoas de diferentes áreas de conhecimento, o Fórum se diferencia de um evento exclusivamente acadêmico ao promover o diálogo entre diversos atores da sociedade civil e academia, ligados ao tema das migrações, e tem incorporado também a participação de organismos internacionais como o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), assim como representantes das três esferas governamentais que elaboram e gerem políticas para a população migrante e refugiada.

Rosane Marques (UFRJ) fala sobre sua pesquisa com mulheres negras nigerianas e congolesas em situação de refúgio na cidade do Rio, na mesa sobre gênero do último dia do IV Simpósio de Pesquisa sobre Migrações. Crédito: Divulgação 
Rosane Marques (UFRJ) fala sobre sua pesquisa com mulheres negras nigerianas e congolesas em situação de refúgio na cidade do Rio, na mesa sobre gênero do último dia do IV Simpósio de Pesquisa sobre Migrações.
Rosane Marques (UFRJ) fala sobre sua pesquisa com mulheres negras nigerianas e congolesas em situação de refúgio na cidade do Rio, na mesa sobre gênero do último dia do IV Simpósio de Pesquisa sobre Migrações. Crédito: Divulgação

Neste sentido, um argumento central do Fórum foi a importância de discutir as políticas migratórias de ontem e hoje, assim como a necessidade de desconstruir os mitos que muitas vezes pervertem o debate sobre a imigração e o refúgio. Para tanto, foi fundamental contar com a presença do professor Luís Reznik, da UERJ e coordenador do Centro de Memória da Imigração Ilha das Flores, assim como do professor Charles Gomes, do Centro de Estudos de Direito e Política de Imigração e Refúgio (CEDPIR), da Fundação Casa de Rui Barbosa, e da professora Lorena Granja (UERJ), que discutiram as migrações intra-regionais a partir das discussões e decisões sobre o tema no MERCOSUL. A importante questão dos refugiados sírios na Argentina e no Líbano foi também debatida pela professora Silvia Montenegro, da Universidad del Rosario, e pelo professor Murilo Meihy, da UFRJ. Outro tema importante foi a experiência da Prefeitura de São Paulo na criação de políticas públicas para imigrantes e refugiados, debatida por Viviana Peña, Coordenadora do Centro de Referência e Acolhida para Imigrantes (CRAI) de São Paulo e por Guilherme Arosa Prol Otero, da Coordenação de Políticas para Imigrantes da Prefeitura de São Paulo.

Já os temas de família, redes, educação e integração estiveram presentes em diversos momentos do Fórum e do Simpósio, com a partilha de várias pesquisas, organizações e iniciativas de e sobre migrantes das mais diversas origens. Perspectivas históricas e atuais sobre educação e integração de imigrantes no Brasil foram expostas pela professora Miriam Santos, do NIEM-UFRRJ, enquanto que a realidade das famílias e redes da mobilidade haitiana foram descritas pelo professor Joseph Handerson da UNIFAP. Ambas apresentações de cunho acadêmico foram discutidas com experiências e iniciativas contemporâneas da sociedade civil como no relato de Tatiana Rodrigues e Carolina de Oliveira do projeto Abraço Cultural no Rio de Janeiro, e da professora Ju Bao, que falou sobre a sua experiência migratória, assim como sobre o ensino de mandarim e cultura chinesa no Brasil.

Outros temas que não ficaram à margem do VIII Fórum de Migrações foram as mudanças e os conflitos socioambientais, que carregam em si contornos políticos como causa de migrações na América Latina e Caribe, abordados pelo professor Celso Sánchez da UNIRIO, e os desafios e oportunidades que emergem com a imigração africana contemporânea, tema tratado pelo professor Mamour Sop Ndiaye do CEFET-Rio, que afirmou a necessidade de resgate da identidade africana no Brasil: “Os seus valores estão na África, mas o Brasil não foi lá buscar”.

Fala do professor Mamour Sop Ndiaye (CEFET-RIO) sobre o resgate da identidade brasileira através da imigração africana contemporânea, no painel do último dia do evento, ao lado das representantes do Coletivo Mallinalli. Crédito: Divulgação 
Fala do professor Mamour Sop Ndiaye (CEFET-RIO) sobre o resgate da identidade brasileira através da imigração africana contemporânea, no painel do último dia do evento, ao lado das representantes do Coletivo Mallinalli.
Fala do professor Mamour Sop Ndiaye (CEFET-RIO) sobre o resgate da identidade brasileira através da imigração africana contemporânea, no painel do último dia do evento, ao lado das representantes do Coletivo Mallinalli. Crédito: Divulgação

Em definitiva, tanto o Fórum como o Simpósio sobre Migrações promovidos pela UFRJ constituem um espaço fundamental para apresentar e discutir pesquisas e experiências sobre migrações a partir de múltiplos olhares. Como brincaram vários dos participantes do Fórum, “O portunhol é a língua do futuro“, na certeza de que as próximas edições constituirão excelentes oportunidades para aprender e debater sobre esse e outros temas, partindo de várias culturas e idiomas. O evento ocorre anualmente e convida a todos interessados para a IX edição, que será realizada em 2017.

*Lya Amanda Rossa é mestranda em Ciências Humanas e Sociais pelo Programa de Pós-Graduação interdisciplinar (PCHS) da Universidade Federal do ABC (SP). Participou do VIII Fórum como ouvinte e do IV Simpósio de Pesquisa sobre Migrações como apresentadora.

*María Villarreal é pós-doutoranda em Sociologia Política na UENF e membro da comissão organizadora do VIII Fórum e do IV Simpósio de Pesquisa sobre Migrações junto a Guilherme Curi, Camila Escudero, Catalina Revollo Pardo, Leonardo Magalhães e os membros da PET e PÓS-ECO da UFRJ.

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